segunda-feira, janeiro 02, 2006

Barulho da Carroça


Certa manhã, meu pai convidou-me a dar um passeio
no bosque e eu aceitei com prazer.

Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno
silêncio me perguntou:

- Além do cantar dos pássaros, você está ouvindo mais
alguma coisa?
Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:

- Estou ouvindo um barulho de carroça.

- Isso mesmo, disse meu pai. É uma carroça vazia ...

Perguntei ao meu pai:

- Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?

- Ora, respondeu meu pai. É muito fácil saber que uma carroça está vazia, por causa do barulho.
Quanto mais vazia a carroça maior é o barulho que faz.

Tornei-me adulto, e até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais,
inoportuna, interrompendo a conversa de todo mundo,
tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo:

Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz...

domingo, janeiro 01, 2006

Avaliando...



Vinicius foi poeta em vida e, como disse Chico Buarque, em busca da felicidade. Uma pessoa que viveu sem se preocupar com padrões e regras vigentes. Pelo contrário, parecia repudiá-los. Queria viver a vida. E vivia com um objetivo em mente: ser feliz.



Talvez, por isso, eu não concorde com Chico quando diz não imaginar o poeta nos dias de hoje. Talvez não se tenha mais o ''porralouquismo'' e a mesma inocência dos anos passados. Mas Vinicius parecia não depender disso. Vinicius não era decorrência do lugar em que vivia, ele transformava o lugar, o seu entorno, de acordo com o seu gosto.

Ao contrário do que se apregoa, Vinicius não é para ser visto com a nostalgia de um tempo que só existiu na lembrança, mas como um guia, como dica de como se viver a esperança. Como disse Ferreira Gullar, Vinicius ajuda a viver.