terça-feira, agosto 01, 2006

Uma reclamação feita recentemente aos programadores da Mozilla, responsável pelo navegador Firefox, ganhou destaque por ter causado o término do relacionamento de um casal. A mulher relatou: "Esta falha de privacidade fez com que eu e meu noivo terminássemos depois de namorar por cinco anos".
De acordo com a usuária, ambos tinham perfis separados no navegador e no Windows XP. Certo dia, quando ela entrou em um site em que era necessário login, o navegador perguntou se queria "gravar as senhas". A mulher clicou no botão "Nunca salvar senhas para o site", mas logo em seguida se arrependeu e foi ao gerenciador. Descobriu páginas suspeitas como "jdate.com", "swinglifestyle.com" e "adultfriendfinder.com", todos sites para relacionamentos.

Após ter terminado com o noivo, a mulher aproveitou a chance para reclamar e culpar os programadores que deixaram esta falha na privacidade: "Firefox devia respeitar cada pequena área de privacidade de cada usuário do sistema. E não está fazendo isto... Vou enviar esta reclamação como Major nível que define prioridade de correção da falha porque não é todo mundo que divide computadores, mas realmente deveria ser considerado Critical nível mais alto de prioridade", disparou.

No texto da reclamação, no passo a passo para reprodução da falha, a mulher que se apresenta como "Mary" listou nove passos, sendo que o último é "Termine com seu noivo". É claro que, além de gerar respostas sérias a respeito por parte dos programadores interessados em resolver o problema, alguns membros da comunidade aproveitaram a situação para fazer piadas. Entre as mensagens, algumas recomendam "A solução para isso é muito simples: nunca divida seu computador com sua namorada".

segunda-feira, julho 31, 2006

Chico não é Gardel por Ademir Luiz

Após ler alguns ensaios sobre o recém-lançado CD Carioca, o novo trabalho de Chico Buarque de Holanda, meu Superego lembrou-se da célebre frase de Vinicius de Moraes: “Chico é a única unanimidade nacional”. Em seguida, infelizmente, meu Ego não conseguiu evitar lembrar-se de que “toda unanimidade é burra”, conforme dizia Nelson Rodrigues. Como conseqüência, meu Id não pôde evitar o impulso de escrever este pequeno comentário.

Não se trata de uma réplica. Não pretendo refutar o conjunto de respeitáveis articulistas que escreveram tais resenhas apologéticas. Tampouco ouso questionar a inquestionável genialidade de Chico Buarque. Quero apenas refletir acerca de uma estranha tendência de parte de nossa crítica musical: querem transformar Chico Buarque em Carlos Gardel. Como se sabe, para os argentinos, o cantor de tangos Carlos Gardel, embora morto em um desastre de avião em 1935, canta cada vez melhor.

De forma semelhante, para nós, brasileiros, Chico Buarque, apesar de estar em nítido e natural declínio criativo, ou mesmo literalmente sem assunto, compõe cada vez melhor. Fazendo uma analogia com o futebol, esporte que Ele adora, Chico Buarque anda jogando com a “camisa”. Para constatar isto basta ler as críticas a seu novo CD. A maioria absoluta trata pouquíssimo do álbum em si. Cerca de dois terços dos textos são dedicados a relembrar a saga buarquiana. Começam por sua privilegiada árvore genealógica, passando pelo “retrato do artista quando moço”, suas participações nos festivais musicais dos anos 60, os problemas com a censura do Regime Militar, o auto-exílio na Itália, o retorno glorioso em 1970, o flerte cada vez mais intenso com a literatura etc. Sobre Carioca, poucas palavras. Será que falta assunto? Ou falta mesmo é música?

Das 12 faixas, cinco são regravações. Não é o caso de questionar a relevância do desejo de um artista fazer uma releitura de composições antigas. Contudo, neste caso em particular, fica difícil não perguntar se, depois de oito anos sem gravar, este mesmo artista não teria músicas novas que desejasse mostrar ou fixar para a posteridade. Tantas regravações se justificam? E a real qualidade das canções inéditas? O tão propalado refinamento de estilo, que alguns insistem em defender, parece-me mera falácia. Mas, se até os fracos livros Estorvo, Fazenda Modelo e Benjamim, costumam ser aplaudidos com entusiasmo, não é mesmo fácil criticar desapaixonadamente a produção musical recente do maior compositor brasileiro de todos os tempos.

Por que tanto pudor em analisar o “atual” Chico Buarque? Será que uma crítica sem condescendência levaria a uma indesejável visão da nudez do rei? Convenhamos, perspectivas políticas à parte, concordar em cantar ao lado de duplas sertanejas não é magnanimamente permitir-se jogar pérolas aos porcos, é simplesmente lamentável. Uma mancha no currículo. Cheira à concessão mercadológica pura e simples. Se fosse Caetano Veloso, ainda poderíamos imaginar tratar-se de algum tipo de provocação. Sendo Chico Buarque, não há justificativa. Não precisava disto. Nem seus admiradores, dentre os quais me incluo.

A verdade é que, cada vez mais maduro enquanto escritor, Chico Buarque parece entediado com a música. Já tentou revelar isto, porém, comicamente, não deixaram. Aconteceu no Programa do Jô. O rotundo entrevistador perguntou-lhe os motivos de sua cada vez mais escassa produção musical. Com toda honestidade, Chico Buarque respondeu que MPB é coisa de adolescente e que agora cultiva outros interesses. Chocado, Jô Soares quase teve uma síncope. Percebendo o alcance da declaração, o “cordial” Chico Buarque, tentou como pôde remediar a polêmica. Ficou o dito pelo não dito. Conclusão: Chico Buarque tornou-se uma unanimidade tão absoluta (burra!?) que acabou maior do que a própria vida. Está além do bem e do mal. Homem inteligente que é, não tenho certeza que compactue com isto. Como é confortável, “vai levando”. Talvez desejando secretamente que apareça um Nietzsche em sua vida, para fazer dele seu Wagner. Um abusado que o questione, quebrando a monotonia do sorumbático festival de elogios que há décadas o persegue.

Os críticos-admiradores, ou admiradores-críticos, de Chico Buarque não precisam se furtar em admitir que todo artista, por mais icônico que seja, fatalmente chegará a seu outono criativo. Isto não desvaloriza sua obra anterior. Pelo contrário, é positivo: não deixa a desagradável sensação de que poderia ter realizado mais, como nos casos de Mozart e Rimbaud. Afinal, Stanley Kubrick ter terminado a carreira com o insosso De Olhos Bem Fechados, não muda o fato de que ele dirigiu os geniais 2001 – Uma Odisséia no Espaço e Laranja Mecânica. O próprio Borges, que publicou até as vésperas de sua morte, em 1986, reconhecidamente lançou seus principais livros, Ficções e O Aleph, entre 1944 e 1949.

Devemos deixar Chico Buarque em paz. Idolatria cega não o ajudará a criar. Se ainda tiver que produzir mais algum canto de cisne, ele virá naturalmente. Não precisamos sobrecarregá-lo com o fardo de ser a âncora perpetua da MPB. Ele já deu seu quinhão. E já foi feita a troca de guarda. Se ainda não surgiu sucessor digno, temos alguns bons candidatos: Lenine, Arnaldo Antunes e, principalmente, Zeca Baleiro, dentre outros. Chico Buarque foi grande e ainda é grande, mas, ancorado em um saudosismo tacanho, não admitir que “nada do que foi será” é o mesmo que, em pleno século 21, querer escalar o sexagenário Rei Pelé para formar dupla de ataque com o jovial Ronaldinho Gaúcho.



Ademir Luiz é professor de história da UEG - Universidade Estadual de Goiás e ficcionista