quarta-feira, janeiro 11, 2006

Entregue


Eu venho te trazer esta mulher – é louca!... tem olhar de céu mas o céu é morto nos seus olhos
Toma, é tua! – é bela, eu a vi nua...– sua face
É límpida como a face da Lua mas não é uma face – é bela mas não é a beleza... Eu a encontrei vagando
Na rua e ela dizia: Quem eu sou? onde estou? para onde vou? milhares e milhares de vezes...
Eu venho te trazer esta criança porque sei que és bom, que não a recusas – ai de mim, eu estou no fim das forças
Em vão a banhei, a perfumei, a alimentei, a deflorei e a repousei sobre a mais tépida das camas
E mostrei-lhe livros de história – talvez a infância... – e uma nódoa de sangue de uma velha pústula – talvez a juventude...
Quem eu sou? onde estou? para onde vou? – nada! apenas os gestos, longos gestos finitos de quem semeia
Tu talvez que és indolente, que nada fazes senão poemas que não te sustentam a família

E que não são o suor do teu corpo...
"São o suor da minha alma!"